E eu pensei que você tinha arruinado tudo quando sonhei que era inverno. Irias para o inferno e num instante me vias em ruínas ao teu lado, a renascer e morrer das mesmas pedras foscas e oníricas com que hibernei em teus olhos a um passo da forca. Como que me fizestes eterno em teu pescoço, em teus braços e pulsos e silêncios. E a guirlanda de flores se desfaz ao tempo em que acordas, teu grito abafado pelo sussurro das folhas que caem de todos os lados e da corda que balanças no freixo em mudo solilóquio. A minha chuva escorre por entre as tuas árvores seminuas, Tempestade. Mas agora entendo, sim, eu lhe entendo. Disseram-me que terias de ser forte, que deverias se apegar ao plano de todos os planos pois Cronos não esqueceria de ti. Mas vez ou outra fica frio aqui dentro e você sabe que eu tentei, sim, que você tentou e que dois lados de um mesmo espelho não se tocam nem se aquecem não importa a estação. E eu pensei que tudo estava certo e que memórias eram apenas adornos que você vestia ou deixava de lado nos teus dias mais carregados, mas talvez nossas nuvens nunca tenham sido exatamente assim. Respiras então a estática dos teus dias infinitos, tragas o universo em teus pequenos pulmões, desabafa e descarrega os teus olhos, os teus sonhos, as tuas elétricas esperanças de pirilampos evanescentes. Sonhas comigo pois, e eu te levarei para um lugar além de quaisquer brumas, espelhos ou estações.